quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Poema sem nome I

Rompeu o chão duro e seco a rosa, semeada em terra que o tempo tornou estéril.
Terra, rocha, pedra: nada deteve o seu desabrochar.

Contemplo, atônito, sua inesperada existência. 

Palpeio-a por inteiro, atestando sua vida.
Toco suas pétalas. Admiro suas cores. Sinto o aroma que delas exala.

Chupo-lhe a seiva que goteja das folhas que arranquei. Regozijo-me com seu sabor.

Deslizo meus dedos pelo seu caule tortuoso. 

Firo-me no espinho que desponta solitário.

Provo do sangue da ferida aberta. 

Com amargor, olho-a novamente. 

Ela desabrochou. Nada a deteve. Nem mesmo o sangue que escorre de meus dedos.



© Guilherme Cavalcanti

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